segunda-feira, 20 de julho de 2009

História do Circuito da Fortaleza



Acima, a versão mais longa (creio) do Circuito da Fortaleza e a que foi mais utilizada. Outras houve, mais curtas. Também se realizaram várias provas neste circuito inseridas em Ralis. Algumas dessas provas, fizeram-se em sentido inverso ao da imagem. Em 1968 também houve corridas de velocidade em sentido contrário. Este circuito, está umbilicalmente ligado à história da cidade de Luanda, pois nasceu quase ao mesmo tempo que a metade dos arruamentos que percorria. Tem o nome obviamente ligado à fortificação de defesa do ocidente da cidade, a Fortaleza de São Miguel, situada num monte circundado a ¾ por mar. Até finais do sec XIX, nada havia em torno desse monte, para além de alguns caminhos e de uma ponte em madeira que ligava à ilha.


Até que foi iniciado o Caminho de Ferro de Ambaca, que ligava Luanda a essa povoação, anos antes de chegar a Malange. Esta linha, tinha vários ramais em Luanda e um deles circundava toda a cidade. Estes ramais destinavam-se ao serviço de passageiros e de mercadorias, com estações como a da Cidade Alta. Esta linha, servia também o porto de Luanda, na altura situado em vários pontos servidos por pequenos cais, como nas Portas de Mar ou no Largo Infante D. Henrique / Largo do Baleizão.


Perto desses cais, situavam-se inúmeros armazéns, indústrias e serviços ligados à navegação. O principal eixo da cidade, era a Av Restauradores - Rua Salvador Correia (actual Rua Rainha Ginga) e ligava o Largo Infante D. Henrique / Largo do Baleizão, continuando para Leste passando o Largo D Fernando, da Livraria Lello. Estes arruamentos, também vieram a fazer parte do Circuito. Para o caminho de ferro circundar o sopé do monte da fortaleza, foi feito um primeiro aterro.


Esta estrutura, serviu até ao final da 2ª Guerra Mundial, após o que o automóvel passou a ser o transporte particular por excelência e os camiões o principal transporte de distribuição urbana e suburbana de mercadorias. O porto de Luanda mudou-se provisoriamente para a frente do espaço onde iria ser edificado o Banco de Angola, enquanto foi sendo construido o porto que hoje existe, na ponta Leste da baía. O caminho de ferro a oeste da cidade foi retirado e o aterro em torno da fortaleza, foi então aumentado para a construção das estradas marginais da Praia do Bispo e da Baía. A ponte de estrutura em madeira para a Ilha, foi substituída por outro aterro. Por alturas do 1º Grande Prémio de Angola, em 1957, Luanda vista da fortaleza para o largo do Baleizão, perspectiva acima repetida 4 vezes, era assim:


Após a 2ª Grande Guerra, Angola desenvolveu-se como nunca. Luanda foi alvo de um plano de reestruturação geral. As novas vias e os novos sistemas de colectores de esgotos e de águas pluviais, foram concebidos para vencer sem problemas as enchentes típicas das tempestades tropicais. Numa boa chuvada, em menos de 5 minutos as ruas ficavam transformadas em rios com altura acima dos tornozelos. Para que a água não subisse aos passeios, estes tinham mais de 30 centímetros de altura. Passada uma chuva torrencial, o sistema de escoamento de águas, secava as ruas mais depressa do que tinham sido cheias. O desenvolvimento da cidade, tornou impossível o sacrifício das suas vias pelas corridas, mesmo poucos anos depois de ser feita a Marginal. E o Circuito da Fortaleza, correu-se pela última vez, desastrosamente e sem treinos, em Dezembro de 1969. Na imagem abaixo, os mais de 30cm de passeio, fazem de rail contra o avanço do Carrera 6 de Andrade Villar, evitando uma tragédia ainda maior:



quarta-feira, 15 de julho de 2009

ainda da Resistência


São Gonçalves, é uma amiga residente em Cela e Luanda, que conheci noutras tertúlias online.


Eis o que me contou sobre este período da "resistência":


"Os karts no Kinaxixi, foi na década de 80. E como nessa altura pouco se podia ir além de Luanda com segurança, fazíamos muitas Gincanas, Karting e Motocross nas Barrocas do Miramar. Fazíamos Rally na Zona de Quenguela Norte, onde havia as Picotas dos Poços de petróleo da FINA, e o Luis Gonçalves, meu xará (muita gente pensa que somos irmãos por causa do nome) que aparece no Megane, andou comigo nessas andanças e é pai da miuda que correu agora (2009) no Huambo. Era giro porque corriamos com os carros do dia-a-dia. Alguns, como eu, tinhamos que os poupar, pois na segunda-feira iamos para o trabalho com o mesmo carro. Estive nessas corridas do Lubango. Luís deu duas voltas de avanço ao Porsche de Maló Almeida (...)


Bons tempos esses, havia camaradagem com fartura. Não havia em Angola, nessa altura, peças para os carros, então quem tinha possibilidade mandava vir. Outras emprestávamos uns aos outros. E ainda outras eram fabricadas por bons torneiros que ainda estavam cá... Enfim... Fiz os Rallys da Fina, Sonangol e o maior nessa altura, o Rally IMAVEST. Corri com 1600SSS, Peugeot 404 com motor 504 e o último que fiz, foi o da Fina com um Fiat RAlly 128, cedido pela Guedal. Tive o 1º Premio Feminino, o da Classe e fiquei classificada na Geral em 5º lugar.


...


O desporto automóvel, sempre moveu multidões e passada a fase do partido único onde o automobilismo era considerado um desporto "capitalista", ou dos capitalistas, viram-se forçados a aceitar a modalidade que também era popular. Íamos para o autódromo de Luanda todos os fins de semana fazer corridas por conta própria, pois nas madrugadas costumávamos ir para a marginal e dar a volta no Hotel Presidente. Mas a polícia começou a andar atrás de nós... Então mudámos para o futungo de Belas, antes da ocupação das casas pela presidência e tivemos a mesma sorte. Foi então que começámos a ir para o autódromo, mas houve um problema, pois o pessoal que se abstinha de andar lá dentro, vinha com a adrelanina à flor da pele e aconteciam sempre acidentes por excessos e morria sempre alguém no regresso. E mesmo lá, havia quedas, espalhanços, e até atropelaram uma vaca, isso mesmo ou melhor ... a vaca atropelou o Alfa Romeo do Brito Rodrigues. Naquela altura havia falta de carne ... e de tudo, em Luanda! Então dividiu-se a vaca pelo pessoal.



Histórias..."


da Resistência


Falta pouco mais de um mês, para a data de 23 Agosto, quando ocorre o GP Festas da Nossa Senhora do Monte, no Lubango, Huíla.


Eu creio que esta imagem de 2005 é de lá:






Na imagem com o Megane de Grupo A de Luís Gonçalves da SoEscapes vivia-se um certo renascer do automobilismo angolano, ainda no início da fase do pós "guerra civil".

Mas neste post mais atrás do Rali Imavest, aparece também Luís Gonçalves em BMW 320 classificado no 9º lugar.

Recorde-se que durante a chamada "guerra civil", a paixão pelo automobilismo levou alguns "resistentes" a manter a modalidade. Isto, é algo totalmente impensável em qualquer parte do mundo! Daí eu classificar esta fase como "resistência". Porque depois da independência, o automobilismo foi e ainda é praticamente uma actividade marginal, sem interesse do Estado (note-se que digo Estado, não Municípios como o do Lubango) sem estruturas federativas e sem uma única pista em condições aceitáveis a qualquer nível.

O Lubango, por quase não ter sofrido com esse guerra, foi um dos poucos lugares onde foi relativamente seguro correr. Tornou-se com isso, na capital actual do automobilismo em Angola.

Curiosamente, os registos mais antigos do automobilismo angolano, são precisamente os dos ralis na Huíla, no início da década de 1950.



O Megane da imagem, era excelentemente preparado aqui bem perto de Oeiras, na Carreto18 do Sr João Pais Amaral. Este meu amigo também viveu em Luanda e andou nalgumas corridas. Quando ainda era um jovem inconsciente, quis experimentar o autódromo de Luanda, ainda em obras e sem asfalto. Ele tinha um Lotus Cortina que meteu meio às escondidas no autódromo, mas que saiu de lá com grande espalhafato, tirado da escapatória de uma curva directamente para a sucata...

Counter