segunda-feira, 3 de março de 2014

Correr em Angola

Muitos amigos meus, alguns deles pilotos de competição, chegam-se a mim com uma pergunta para a qual só posso ter a resposta que eles não gostariam de ouvir.
“Eh pah, gostava tanto de um dia ir correr a Angola!. Dá lá um jeito e diz qualquer coisa !”. A coisa, posta desta maneira, até parece “trigo limpo, farinha amparo”. Mas não é assim tão linear. 
Compreendo que a curiosidade de ir a Angola e ver o avanço que o país ganhou após a Paz em 2002 seja um motivo suficiente para incentivar o outro que é o de ir correr a Angola. 
Tirando a parte da logística – viagens, alojamento, deslocações, alimentação – a “coisa” pode envenenar-se nas negociações de aluguer do carro. Claro que antes, é preciso encontrar alguém que queira alugar o seu carro. Transportar carro próprio acho que, o melhor, é esquecer.
Depois, é preciso saber que as corridas em Angola são feitas em circuitos urbanos (herdados dos tempos de antes da independência) e no autódromo de Luanda. O piso do autódromo de Luanda esta muito degradado, péssimo para as suspensões, péssimo para a resistência dos pneus.
Só mesmo a considerável pujança financeira de alguns permite que carros como Radial SR8, sejam vistos nas pistas angolanas. Braços de suspensão, amortecedores, pneus, é um “vê se te avias”. 
Vem então a questão disciplinar. Embora existindo uma Federação Angolana de Automobilismo, este órgão ainda não está homologado pela FIA. Donde, quem for correr a Angola, poderá correr o risco de ver a sua licença desportiva suspensa. 
Actualmente não há condições para se regressar à pujança do automobilismo desportivo de antes da independência. Não adianta sonhar com a reconstituição das “6horas de Nova Lisboa” com a presença de antigos pilotos de competição de antes da independência. Já houve tentativas, todas caídas num inevitável “delete” de iniciativa. O tempo não volta para trás e os antigos pilotos de antes da independência, os que estão ainda vivos, estão mais velhos 40 anos e os locais não têm memória deles. 
No sentido contrário, eu veria como mais viável aliciar os pilotos angolanos a virem correr a Portugal e, até, em Espanha e no resto da Europa. Penso que seria um mercado a desenvolver. Alguns deslocam-se de facto a Portugal, alugam os carros e participam nas corridas do Porto. Mas não participam em Campeonatos. E isso é que seria interessante de ver. Pilotos angolanos a participarem em Campeonatos portugueses.
Talvez a nova linha dirigente da Federação gostasse de se debruçar sobre esta questão e ajudar a Federação Angolana a ganhar os galões da FIA e a patrocinar um intercâmbio real entre os pilotos angolanos e os portugueses, em Campeonatos nacionais.

helderdesousa
(texto publicado no Lusomotores.com)

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